quarta-feira, 5 de abril de 2023

Homem é inocentado após 6 meses na cadeia por morte de vizinho: 'mais um negro preso injustamente', diz advogado


Em 2021, André Arcanjo foi acusado de envolvimento na morte de idoso que conhecia há mais de 20 anos.

André Arcanjo foi inocentado após quase dois anos — Foto: Reprodução/Instagram

Após ficar preso durante mais seis meses por latrocínio, que é roubo seguido de morte, o auxiliar de farmácia André Arcanjo, de 42 anos, foi inocentado pela Justiça.

Há quase dois anos, o recifense deixou de ser testemunha e virou suspeito de envolvimento na morte de um idoso de 71 anos, que conhecia há mais de 20 anos e era vizinho dele.

O caso de latrocínio do idoso foi publicado pelo g1 em julho de 2021. Edvaldo Oliveira Carvalho foi morto por dois homens armados dentro da casa onde morava, em Areias, na Zona Oeste do Recife.

A decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) saiu na sexta (31). Por nota, o tribunal afirmou, nesta terça (4), que foi constatada "a incerteza para condenação dos acusados diante da ausência de provas suficientes".

Com a sentença, outros dois réus também foram inocentados pela Justiça. Até esta terça, o TJPE não havia recebido pedidos de recurso.

"Foi um processo que já nasceu morto, mas infelizmente resultou em mais um jovem negro preso injustamente por um crime que não cometeu", declarou o advogado de defesa de André Wanderson Albuquerque em entrevista ao g1, nesta terça.

Entenda o caso

Detido como suspeito em outubro de 2021, André teve o habeas corpus negado pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), em janeiro de 2022.
André ficou no Centro de Triagem e Observação Criminológica professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.
A defesa dele recorreu e levou o pedido de libertação ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que foi aceito. André, então, passou a responder fora do presídio desde junho do ano passado.

(CORREÇÃO: O g1 errou ao informar que André Arcanjo foi detido em outubro de 2011. A detenção ocorreu em outubro de 2021. A informação foi corrigida às 17h08)

Ao todo, 13 testemunhas foram ouvidas durante o processo, segundo a defesa de André. "Nenhuma das testemunhas colocou ele como autor do fato, o que gerou ainda mais espanto na prisão", disse o advogado Wanderson Albuquerque.

Ainda de acordo com a defesa, na primeira audiência, em 19 de abril de 2022, uma das testemunhas, o pedreiro que estava trabalhando na casa e que abriu a grade para André, negou a versão do inquérito policial de que André teria facilitado a entrada dos bandidos na casa onde aconteceu o crime.

Processo

Segundo informações que constam no processo judicial, dois homens entraram na casa de Edvaldo para roubar R$ 200 mil que estavam dentro de um cofre da vítima.
Após o idoso negar a existência desse cofre, os criminosos atiraram na perna e na barriga dele. A vítima morreu no local.
Nos documentos anexados ao processo constam também que André frequentava a casa de Edvaldo, conhecido como Valdo.
Por ser auxiliar de farmácia e trabalhar em unidades de saúde, ajudava a dar banho na esposa do idoso, que tinha mal de Alzheimer.
As informações contidas nos autos do processo também apontam que, no dia do crime, André foi convidado para tomar um café.
O documento que está no site do TJPE mostra trecho do depoimento de André.
Ao Judiciário, ele afirmou que, ao entrar na casa, com o amigo Rodrigo de Freitas Espíndola, foi surpreendido por dois homens que saíram de um carro estacionado nas proximidades.
Ainda de acordo com os relatos registrados pela Justiça, ele pediu socorro e tentou reanimar Valdo, mas, sem sucesso.
O auxiliar de farmácia permaneceu no local até a chegada da equipe do Instituo de Medicina Legal (IML).
Depois, ele foi para a delegacia prestar depoimento e colaborou com a polícia, chegando a oferecer o próprio celular para contribuir com as investigações.
No processo, também consta que a polícia entendeu que André teria facilitado a entrada dos criminosos na cada da vítima.

Por Fernanda Soares

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