sexta-feira, 24 de março de 2023

Policial civil acusado de vender armas no maior clube de tiros do Brasil tem demissão pedida por corregedoria

Segundo Secretaria de Defesa Social, Diego de Almeida Soares deve perder emprego por ter empresa em seu nome. Decisão final será da governadora Raquel Lyra.

Diego de Almeida Soares, em imagem retirada de redes sociais — Foto: Reprodução/TV Globo

O policial civil acusado de vender armas de fogo de forma ilegal em um clube de tiros em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, considerado o maior do Brasil, teve a demissão pedida pela Corregedoria-geral da Secretaria de Defesa Social (SDS).

A solicitação foi feita porque o agente licenciado Diego de Almeida Soares tem empresas privadas em seu nome e participava da administração do CTA Clube de Tiro e da loja Shop do Atirador. Segundo a corregedoria, isso fere o estatuto dos policiais civis.

Presidente da Associação dos Policiais Civis de Pernambuco, Diego ficou conhecido por ser alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) e um dos personagens de uma reportagem do "Fantástico", da TV Globo, veiculada no domingo (19) (veja vídeo abaixo).

Ele também é réu em processos que envolvem falsidade ideológica e uso de documento falso.

Policial civil de PE é acusado de praticar comércio ilegal de armas

O pedido de demissão de Diego Almeida Soares foi publicado no Boletim-Geral da Secretaria da SDS, na terça (21). Segundo a pasta, a decisão final sobre a demissão será da governadora Raquel Lyra (PSDB), como determinam as leis estaduais.

No texto do boletim, a secretária estadual de Defesa Social, Carla Patrícia Barros da Cunha, diz que foram acatadas a sugestão da 5ª Comissão Permanente de Disciplina Polícia Civil, o parecer da corregedora auxiliar civil, o parecer técnico da assessoria da Corregedoria Geral e o despacho homologatório da Corregedora Geral da SDS. Todos esses documentos apontam para a pena de demissão.

Em entrevista ao g1, o chefe da assessoria da Corregedoria-geral da SDS, Graham Bentzen, explicou que é preciso analisar o caso de Diego nos âmbitos criminal e administrativo.

Segundo ele, o pedido de demissão entra na questão administrativa da SDS e foi feito por causa das atividades dele no clube de tiros, o CTA.

"É uma empresa privada e Diego exercia funções administrativas. Também trabalhava com comércio. São questões proibidas. Ele só poderia ser cotista da empresa", afirmou.

Bentzen disse, ainda, que a investigação sobre o clube de tiro feita pela PF também permitiu a abertura de outro processo administrativo em Pernambuco.

"A questão criminal, nesse caso, é com a Polícia Federal. Caso ele também seja punido administrativamente nesse caso da investigação da PF, será mais uma na ficha dele", observou.

O chefe da assessoria da Corregedoria-geral da SDS afirmou, ainda, que não existe um prazo definido para a governadora tomar a decisão final.

"A procuradoria-Geral do Estado vai analisar o caso e depois o documento seguirá para o governo. Caso ele seja demitido, perderá todas as prerrogativas de policial, salário, armas e equipamentos", acrescentou.

Histórico

O policial foi preso pela Polícia Federal em 2022. Passou quatro meses na cadeia e foi solto em fevereiro deste ano.

O clube tiros foi fechado e a PF apreendeu 2.555 armas. Segundo a corporação, essa é a maior apreensão dos últimos dez anos.

Diego será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) pelos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e comércio ilegal de arma de fogo.

O TRF5 também aceitou o pedido da Polícia Federal em Pernambuco para que as armas apreendidas em Caruaru sejam doadas para a PM do estado.

Diego ficou milionário com os empreendimentos, de acordo com as investigações da PF. O patrimônio saltou de R$ 390 mil, em 2018, para R$ 60 milhões, em 2021.

Ainda segundo a PF, Diego tinha o maior clube de tiros do Brasil, com 8 mil associados, e oferecia um pacote completo com assistência jurídica, armas e treinamento para os associados.

Na época da prisão, Diego estava construindo mais três clubes, com loja e serviços de manutenção. Um deles seria para tiros de fuzil.

Segundo as investigações, o CTA Clube de Tiro tinha associados em todo o Brasil e agilizava a filiação deles em clubes de diferentes estados. Era uma manobra para os filiados circularem pelo país com armas carregadas.

Detalhes da denúncia

A reportagem do "Fantástico" mostrou também como o acesso a licenças para caçadores, atiradores desportivos e colecionadores de armas, os CACs, facilitou que fuzis fossem parar legalmente nas mãos de traficantes.

O governo de Jair Bolsonaro (PL) autorizou os CACs a levar armas municiadas ao clube, a competições, a caçadas e a exposições de coleção. O governo Lula (PT) proibiu que essas pessoas se desloquem com armas municiadas.

A Polícia Federal também apontou que o clube de tiros facilitava que pessoas com antecedentes criminais conseguissem o registro de CACs. Em uma gravação da PF, um associado conta que foi detido depois de beber e atirar.

O que diz a defesa

A defesa de Diego disse para a TV Globo que a demissão “contraria a legislação”. Também afirmou que a decisão da corregedoria é "prematura, apressada e incompatível" e que o policial tem direito à ampla defesa e ao contraditório.

O advogado Ricardo Rêgo Barros disse ainda que seria "prudente" aguardar as conclusões do processo penal na Justiça e só assim adotar as devidas providências.


Por Bruno Fontes e Ricardo Novelino, TV Globo e g1 PE

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