Vice-presidente institucional da Claro, Fábio Andrade, é figura conhecida nos círculos do poder em Brasília (DF). Neste momento, ele lidera uma reação contra a obra de uma usina de dessalinização de água na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). O projeto ameaça a integridade dos cabos submarinos, responsáveis pela conexão de quase toda a internet do país com o restante do mundo.
Essa usina vai mesmo parar a internet do país?
A Anatel já se manifestou. Disse que essa situação é um absurdo e determinou que os dutos da usina fiquem a, no mínimo, 500 metros dos cabos submarinos. Antes, o projeto estabelecia cinco metros. Com a vibração da água [pelos dutos de sucção] pode haver rompimento dos cabos.
E isso resolve?
Essa distância impede que sejam instalados novos cabos para aumento de capacidade. E, hoje dia, consumo de internet cresce que nem unha. A gente planeja dobrar o número de cabos em três anos. Para isso, seria preciso uma distância de, no mínimo, 1.000 metros.
O que fez a Anatel?
Promoveu um seminário em Fortaleza [capital do Ceará] em que ambas as partes de reuniram. A companhia de água entrou questionando. Disse que não havia motivo para preocupação. Aí, a gente aumentou o tom para explicar que há o risco de causar uma pane na internet.
Não é exagero?
Quase toda a conexão internacional do país com EUA, Europa e África chega na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). Um reparo leva, no mínimo, 50 dias. Isso afetaria a segurança pública, saúde, hospital, a população.
E ninguém previu isso no projeto?
Depois do nosso alerta, a companhia de água disse faria um projeto executivo prevendo alguma solução.
É uma obra de quase R$ 3 bilhões envolvendo até investidores estrangeiros. Antes disso, só havia um projeto básico e nele constava as intersecções.
O governador é hoje ministro da Educação e o governador atual pertence ao PT.
O Palácio não acompanha isso?
A informação que temos é que o governador atual [Elmano de Freitas (PT)] decidiu manter da forma como estava. Mas, de uma semana para cá, houve um arrefecimento nessa intenção. Hoje, estamos esperando esse projeto executivo.
E tem como resolver?
O que não falta em Fortaleza é mar. Não encontro razão para esse projeto ser exatamente nessa praia. A água é a mesma. Se ficar lá mesmo, teremos sérios problemas de expansão. A gente quer que, se for instalar [a usina], que seja na Praia da Árvore.
Se não mudarem de praia, como ficará a expansão da capacidade de internet?
Teremos de procurar outra praia. Ali é a menor distância que liga todos os continentes e as marés são ideais [sem muita vibração nos cabos]. O custo é maior, teremos ainda de providenciar a conexão em terra entre esses dois terminais de cabos.
Há prazos definidos?
A licença ambiental [da usina] foi aprovada e ouvimos que pretendem iniciar as obras em março do próximo ano.
Fonte: Folha de São Paulo
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