sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Secretário de Defesa Social diz que aumento de mortes em operações policiais reflete cenário nacional; 'Quando a polícia é recebida a tiros, ela vai revidar'

Declaração foi dada durante audiência sobre segurança pública na Alepe. Secretário não informou quando deve ser lançado programa 'Juntos pela Segurança'.

Secretário Alessandro Carvalho fala sobre medidas para reduzir a letalidade policial

O secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, negou que o estado tenha uma alta taxa de mortes provocadas por policiais. Na avaliação dele o aumento no número de mortes em operações policiais é reflexo do cenário nacional.

"Estamos vendo que o crime organizado, as facções em todo o país, estão agindo cada vez mais de forma mais violenta e com mais armas nas mãos dos criminosos. Aumentou em 10 anos porque a violência como um todo aumentou também. [...] Quando a polícia chega no local e é recebida a tiros, ela vai revidar”, justificou o secretário, que disse que Pernambuco está na 24ª colocação entre as unidades da Federação em número de mortes pela polícia.

O estado registrou uma alta de 200% no número de vítimas de ações policiais nos últimos 10 anos. Em 2023, até o mês de outubro, 94 pessoas foram mortas pelas forças de segurança em Pernambuco.

O número é maior do que o registrado durante todo o ano de 2022, quando 91 pessoas morreram em decorrência de atividades policiais em Pernambuco. Desse total, 89,6% eram negras. Os dados são do levantamento "Pele Alvo", divulgado nesta quinta (16) pela Rede de Observatórios de Segurança, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).

As declarações foram feitas durante audiência pública para debater a política de segurança e a letalidade das ações policiais no estado, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na tarde desta quinta (16).

Carvalho argumentou que Pernambuco está na 24ª colocação entre as unidades da Federação em número de mortes pela polícia. Segundo ele, os casos de abuso policial em Pernambuco que não envolvem legítima defesa são exceções.

“Quem agiu errado, quem se excedeu, vai responder”, disse Alessandro Carvalho, em referência aos agentes de segurança que mataram pessoas no exercício da profissão.


Questionado pelo g1, Alessandro de Carvalho disse o plano de ação do ‘Juntos pela Segurança’ - anunciado em 31 de julho pela governadora Raquel Lyra (PSDB), num evento no Centro de Convenções de Pernambuco, será apresentado em "um momento oportuno".

A proposta, divulgada em julho, deveria ter sido apresentada até o dia 28 de setembro, mas segue sem data.

O Secretário de Defesa Social também não deu uma previsão sobre quando a Polícia Militar passará a utilizar as câmeras corporais que foram adquiridas em janeiro.

Segundo ele, o governo federal estuda adquirir "bodycams" e o executivo estadual tem esperado a movimentação para não desperdiçar recursos.

"Eu sou a favor, agora recursos são limitados. [...] A minha posição é aguardar o que vai acontecer no Governo Federal para o recurso estadual que nós temos, nós empregarmos em outra frente", comentou.

Secretário Alessandro Carvalho durante audiência pública na Alepe — Foto: Iris Costa/g1

Audiência pública cobrou ações na área de segurança

O evento realizado na Alepe foi proposto pelos deputados estaduais Dani Portela (PSol) e João Paulo (PT), com o tema “O aumento da violência letal e a situação da segurança pública em Pernambuco”.

Dani Portela chamou a atenção para o estudo da Rede de Observatórios da Segurança, divulgado nesta quinta, que mostra que os jovens negros são as maiores vítimas da violência policial.

“Na maioria das vezes, as vitimas são jovens. A maioria tem entre 18 e 24 anos. São negros, vindos da periferia de todas as partes do estado”, apontou a parlamentar.

“A gente não pode continuar repetindo números como esses. São mães negras que se preocupam se o filho está saindo de casa com o RG. Nos últimos 10 anos as mortes por forças de segurança aumentaram 200%”, complementou.

O deputado João Paulo (PT) comentou a escassez de formação dos policiais como possível agravante para o alto índice de mortalidade de jovens negros em operações das forças de segurança. “Esse corte racial é, ao meu ver, um ausência de uma política de formação de direitos humanos”, disse.

Um dos casos citados durante o debate na Alepe foi a chacina que aconteceu em Camaragibe, no Grande Recife, no mês de setembro, quando seis pessoas de uma mesma família foram mortas em menos de 24 horas, após o assassinato de dois policiais durante uma operação.

Tanto os parlamentares, quanto as entidades presentes, cobraram da Secretaria de Defesa Social um plano detalhado para a redução da letalidade policial em Pernambuco.

"Fiquei bem surpresa com a presença de vários representantes do governo do estado, de inúmeras secretarias, mas no final as expectativas foram um pouco frustradas, porque achei que várias coisas importantes deixaram de ser respondidas", comentou a deputada Dani Portela.

Entre as entidades da sociedade civil organizada presentes estavam o Instituto Fogo Cruzado, a Rede de Mulheres Negras, o Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop) e a Frente pelo Desencarceramento. A audiência também ouviu familiares de pessoas mortas durante operações policiais.


Por Iris Costa, g1 PE

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