No Dia Mundial do Rock, o Viver explica origens da data, relembra a trajetória do gênero musical e conversa com especialistas sobre o momento dele no cenário atual
O Live Aid marcou o mundo da música para sempre e fez parte de um momento histórico de um dos mais populares ritmos. Em 13 de julho de 1985, os maiores nomes do Rock da época – Queen, David Bowie, Led Zeppelin, Madonna, Mick Jagger, Black Sabbath, The Who, Elton John, Phil Collins, Eric Clapton, entre outros – foram distribuídos em dois palcos simultâneos, no Wembley Stadium, em Londres, e no John F. Kennedy Stadium, na Filadélfia, para apresentar o que, em alguns casos, foi o show de suas vidas. Com o objetivo de arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia, o cantor e compositor Bob Geldof idealizou esse mega festival que reuniu mais de 70 mil pessoas para cada palco. E, a partir desse dia, passou a ser celebrado, ironicamente apenas no Brasil, o Dia Mundial do Rock.
Estilo musical surgido nos anos 1940 nos Estados Unidos a partir do Blues – que, por sua vez, deriva das canções dos negros escravizados nas plantações de algodão –, o Rock'n Roll adicionou um balanço à sonoridade original, que, aliada ao Jazz, R&B e ao Country Music, formou algo que vai além do ritmo e se torna uma filosofia de vida, símbolo da rebeldia jovial, das quebras da normatividade e tinha no seu âmago, dada a origem, vários elementos da cultura negra.
Com o rei Elvis Presley, cuja carreira começaria nos anos 1950, época da chegada da guitarra elétrica, a popularidade do Rock teve ascensão meteórica. O passar dos anos deu a ele uma série de outras influências e possibilidades de instrumento para além da formação clássica (vocal, bateria, baixo e guitarra) e, especialmente após o surgimento dos Beatles no Reino Unido, se tornou um fenômeno global da década de 1960 em diante.
No Brasil, Nora Ney é creditada como a primeira cantora brasileira a gravar o ritmo, em 1955, com 'Rock Around the Clock', de Bill Haley, enquanto o também carioca Cauby Peixoto gravou o primeiro Rock em português que se tem registro, 'Rock'n Roll em Copacabana', em 1957. E, se grandes nomes como Rita Lee e Os Mutantes, a Tropicália, a Jovem Guarda, Raul Seixas e outros grandes representantes da música nacional incorporaram elementos do Rock e fizeram história, os anos 1980 se tornam um auge com o B-Rock e a ascensão dos Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Titãs, Legião Urbana, entre tantos.
O jornalista, doutorando em comunicação e músico Antônio Lira destaca em entrevista ao Viver as alterações que o gênero sofreu com o passar do tempo, tanto de visibilidade quanto do que ele representa socialmente. “Mesmo que o Rock não esteja mais no topo do mainstream, é importante perceber como ele acaba se renovando inclusive no circuito independente. No Brasil dos anos 1980, realmente tivemos um grande momento com um Rock totalmente Rock, e hoje ele já está em outros lugares. Precisamos ter visão crítica, inclusive, de como ele é um dos gêneros mais romantizados: mesmo com sua origem da cultura negra, com o símbolo de algo que brancos e negros podem dançar juntos, da juventude, das lutas por direitos civis e todo o movimento da Contracultura dos anos 1960, o Rock, com o passar do tempo, se consolida como um ritmo branco e masculino”, questiona.
Professor titular da UFPE e pesquisador do Rock, Jeder Janotti Jr. também comenta sobre o lugar do gênero e a importância da preservação de suas matrizes e de sua constante renovação. “Quando eu olho hoje para o cenário brasileiro e pernambucano, acho muito interessante que algo que parecia ser coisa de ‘tio velho’, como eu, esteja se renovando. Chegou uma garotada de vários outros lugares, para além dos tradicionais bairros de classe alta, fazendo confluências, articulações e releituras, por exemplo unindo o Rock e o Brega – coisas que antes eram consideradas”, afirma, ressaltando ainda: “Ao mesmo tempo, é essencial refletir sobre uma série de processos de minimização da influência negra na gênesis do Rock. Para mim, a banda mais importante para a gente perceber esse peso da afro-confluência é a Black Pantera, que renovou de fato o Rock no Brasil”.
Jornalista e guitarrista, Marcelo Demo destaca a representação roqueira em Pernambuco. “A primeira banda de Reginaldo Rossi, Silver Jets; Ave Sangria, que tá ativa desde o final dos anos 1960; Lula Côrtes e vários nomes da nossa música são excelentes exemplos de como nós somos celeiro de grandes músicos, inclusive do Rock. Nos anos 1980, tivemos a primeira banda de heavy do estado, com Herdeiros de Lúcifer e, na década de 1990, o Manguebeat foi um dos maiores marcos da nossa cultura. Temos ainda bandas muito boas hoje, claro, mas o Rock autoral não anda mais em alta para o grande público da maior parte do mundo mesmo. Por isso a importância de uma data que preserve um gênero que continua, sim, firme e forte e que vai continuar vivo enquanto houver humanidade”, completa.
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