sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Vacina em spray nasal brasileira tem 100% de eficácia contra Covid em camundongos

Imunizante é um dos primeiros do tipo no mundo a ser testado em animais; cientistas esperam melhor desempenho com a aplicação direto na mucosa

Vacinas nasais contra a Covid-19 são aprovadas no mundo. - Foto: CDC/Unsplash

Uma nova vacina contra a Covid-19, administrada por via nasal em forma de spray e desenvolvida por pesquisadores brasileiros, apresentou 100% de eficácia contra a doença em testes iniciais com camundongos. O estudo em que detalham os experimentos foi publicado na revista científica Vaccines.

A dose foi desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O projeto conta ainda com a ajuda de pesquisadores de outras instituições da USP e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo os responsáveis pelo imunizante, a vacina figura entre poucas vacinas nasais contra a Covid-19 no mundo que chegaram na etapa de testes com animais. A expectativa é alta: por induzir a resposta imune diretamente na mucosa do nariz, local por onde o vírus entra no organismo, é esperado que ela apresente um melhor desempenho em barrar a contaminação.

“Como o SARS-CoV-2 (vírus causador da Covid-19) é um vírus respiratório, foi natural propor uma vacina que pudesse neutralizá-lo já na área mais propensa às suas tentativas de entrada no corpo humano, ou seja, nas vias aéreas superiores”, conta Momtchilo Russo, professor do Departamento de Imunologia do ICB e um dos coordenadores do estudo, em comunicado.

Para induzir a resposta imunológica, a vacina utiliza a proteína Spike do novo coronavírus, que fica na superfície do patógeno e é a que ele usa para se conectar e contaminar a célula humana. Além disso, a dose conta com um adjuvante, substância que amplia a produção das defesas. Juntos, a proteína e o adjuvante são envoltos numa partícula de lipídio chamada de lipossoma.

Até então, a formulação é semelhante a de outras vacinas que existem para a doença. O grande diferencial é a forma de administração – a via nasal. Os pesquisadores explicam que, nas mucosas, há uma grande produção de anticorpos, por isso o estímulo diretamente ali deve proporcionar melhores defesas.

Foi o que aconteceu com os animais geneticamente modificados para serem infectados pelo SARS-CoV-2 nos testes. Geralmente, quando não imunizados, os camundongos desenvolvem pneumonia, perdem peso e morrem devido à infecção em até sete dias.

Porém, no experimento, 100% dos animais que receberam a vacina nasal ficaram protegidos e sobreviveram. Além disso, quando comparados a uma parcela das cobaias que receberam o imunizante injetável de Oxford/AstraZeneca, a dose pelo nariz mostrou uma maior eficiência em eliminar o vírus do pulmão e induzir a produção de anticorpos. Os camundongos foram expostos a versões das variantes Gama, Delta e Ômicron.

Agora, a expectativa é que a dose avance nos testes. Se chegar às etapas clínicas, em humanos, e ter a sua eficácia e segurança comprovadas, Russo explica que a nova vacina “pode funcionar muito bem como reforço heterólogo, combinando-a com outros tipos de vacinas já aplicadas anteriormente”. Além disso, será um imunizante 100% nacional.

Agência O Globo

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