sexta-feira, 24 de outubro de 2025

“Cílios na régua” aumenta risco para os olhos, alerta especialista

Divulgação

Vídeos que mostram pessoas cortando ou até retirando completamente os cílios têm viralizado em diferentes países e começam a ganhar espaço também no Brasil. Em barbearias e salões de beleza, a prática vem sendo justificada por razões estéticas: alguns homens associam cílios longos à feminilidade, enquanto outros acreditam que o corte garante um “olhar mais natural”. Apesar de parecer inofensiva, a tendência preocupa especialistas pela ameaça que representa à saúde ocular.

O oftalmologista Dr. Jerrar Xavier, do Hospital Santa Luzia, que é especialista em pálpebras e doutor em cirurgia, destaca que os cílios têm funções essenciais. “São estruturas dos anexos oculares imprescindíveis para um bom funcionamento dos olhos. Têm função de barreira física contra partículas e vento, filtram parcialmente a luz diminuindo o desconforto que ela pode causar, além de funcionarem como sensores de alerta para o olho piscar ao contato com algo que possa vir a ser nocivo”, explica.

Risco de infecções e inflamações

Segundo o especialista, cortar ou remover os cílios deixa os olhos vulneráveis a agressões externas. “O olho como um todo, principalmente a córnea e a conjuntiva, vão ficar mais expostos aos agressores físicos e biológicos. Levando a lesões nestas estruturas que, junto com a maior facilidade dos microrganismos patogênicos de atingi-las, vão levar a infecções e inflamações”, afirma Dr. Xavier.

Além disso, a ausência dos fios compromete o mecanismo de proteção ocular. “Vai diminuir o mecanismo de proteção da barreira dos olhos de partículas físicas e de micróbios e aumentar o ofuscamento pela luz”, completa.

A lubrificação ocular também pode ser afetada. Sem os cílios íntegros, parte do sistema de alerta é removida, prejudicando o reflexo de piscar. “A lubrificação natural do olho fica prejudicada pois vai deixar o olho mais exposto, levando a uma maior evaporação da lágrima. E a própria diminuição do piscar vai diminuir também o estímulo de produção e distribuição de lágrimas”, ressalta.

Alterações no crescimento dos fios
Outro ponto de atenção é que os cílios podem crescer de forma anormal após o corte, embora não seja uma regra. “Durante o corte, a raiz dos cílios pode sofrer danos e isso pode vir a afetar a anatomia desse cílio na fase de crescimento. Se esses cílios ficarem invertidos e tocando a córnea, vão levar a lesões mecânicas e consequentemente inflamações e infecções potencialmente graves”, alerta o especialista.

Além do risco imediato, essas mudanças também podem interferir na função protetora natural do olho, facilitando o surgimento de conjuntivites, ceratites e outros problemas inflamatórios. Mesmo que os danos não sejam percebidos imediatamente, os efeitos a longo prazo podem comprometer a saúde ocular, tornando necessária a avaliação oftalmológica periódica para evitar complicações mais graves.

Sintomas de alerta
Quem aderiu à prática deve estar atento a sinais que indicam problemas oculares para procurar atendimento médico. “Irritação constante ou sensação de olho seco, dor ocular, secreção e pálpebras inchadas”, recomenda Dr. Xavier.

A presença de qualquer um desses sintomas pode indicar inflamação ou infecção, sendo fundamental buscar atendimento profissional rapidamente. O acompanhamento precoce é essencial para prevenir complicações sérias, incluindo infecções recorrentes ou danos à córnea que podem afetar a visão de forma duradoura.

Moda passageira, riscos permanentes
Para o especialista, trata-se de uma moda impulsionada pelas redes sociais, mas com impactos sérios. “Essa é uma moda passageira com risco real para a saúde dos olhos que podem ser permanentes e que não valem a pena correr. Para preservar a saúde ocular, devemos preservar a anatomia dos cílios e consequentemente sua funcionalidade”, conclui Dr. Jerrar Xavier.

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