quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Professora trans têm título de cidadã negado pela Câmara Municipal do Recife e caso gera ''guerra'' entre vereadores

Professora trans Dayanna Louise receberia título de cidadã recifense (Foto: reprodução: Redes Sociais )

A rejeição de título de cidadã recifense para uma professora trans desencadeou uma “guerra” entre partidos na Câmara Municipal do Recife (CMR).

Nesta quarta (13), o vereador Ivan Moraes (PSOL) protocolou um pedido na Comissão de Ética da Casa José Mariano para cassar o mandato da vereadora Michele Collins (PP).

O parlamentar alegou que a colega cometeu "crime de transfobia" após um discurso no plenário da Câmara contra a concessão do título de cidadã recifense para a professora Dayanna Louise.

A votação ocorreu na segunda-feira (11). A propossição precisaria ser aprovada com 24 votos favoráveis.

No entanto, o placar apontou 20 votos favoráveis e cinco contrários, o que culminou na rejeição do título.

Ivan Moraes protocolou formalmente o pedido de cassação da vereadora na Comissão de Ética por questionar a atitude da colega, que é da bancada evangélica.

Ivan Moraes protocolou pedido de cassação de colega (Foto: Arquivo)

O vereador do PSOL afirmou que Collins se posicionou contra a concessão do título e foi além. Declarou que a vereadora chamou a professora trans pelo nome masculino, durante discurso na tribuna da cãmara, e não pelo nome social, como determinam várias leis em vigor.

“A vereadora incorreu no crime de transfobia. Ela cometeu uma ilegalidade e eu não tenho nenhuma opção além de remetê-la à Comissão de Ética, para que esse colegiado possa dizer que esse tipo de atitude não será permitido nessa casa”, afirmou o vereador do PSOL.

O que disse Michele

Mivhelle Collins foi contra título (Foto: Arquivo)

Em discurso no plenário da câmara, a vereadora disse: “O vereador Ivan Moraes está propondo para que um homem, porque é do sexo masculino [..] masculino. Mas esse homem se sente mulher, é um homem trans. Uma pessoa LGBT. E ele (Ivan) quer que essa pessoa que é um homem, do sexo masculino, receba o título de cidadã recifense. O cidadão é qualquer pessoa, né? Mas, cidadã é só para mulheres”, falou Michele Collins.

Por meio de nota, a vereadora Michele Collins afirmou que "Gostaria de esclarecer que em nenhum momento ofendi, desrespeitei ou não valorizei o currículo da pessoa que estava no projeto".

A parlamentar acrescentou que "apenas e tão somente, a minha discussão era regimental. Desde que entrei na Câmara do Recife a minha conduta é pautada pelo regimento. Todo vereador deve se pautar por ele", disse.

Ainda segundo a parlamentar, foi apresentada uma sugestão para que houvesse uma mudança no regimento.

"Inclusive, pedi que o projeto em questão fosse votado em outro momento e que a votação acontecesse após a correção do regimento. Se faz necessária uma atualização nesse artigo, já que a mudança acontece a todo instante", afirmou.

Na nota, a vereadora do PP declarou que n]ap "colocou questões de crença religiosa, de formação político partidária, de oposição, de governo".

"Apenas eu estava me atendo a uma interpretação da legalidade estrita do regimento interno. A minha discussão foi meramente com relação à técnica legislativa daquela proposição".

Por fim, ela disse: "reafirmo aqui que o meu agir foi pelo excesso de preciosidade com o regimento da Casa. Até o momento, não fui notificada pela Comissão de Ética. Mas, no momento em que receber, estarei pronta para fazer todos os esclarecimentos necessários".

O que diz a professora Dayanna Louise

Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, a professora Dayanna Louise afirmou que a rejeição do título de cidadã à ela é uma representação de afronta contra os direitos da população trans e travestis.

“A rejeição do meu título de cidadã do Recife representa uma afronta aos direitos da população trans e travesti por parte dos setores fundamentalistas que visam obter capital político através da propagação de discursos falaciosos”, ressaltou ela.

Ainda segundo Dayanna, ao negar o pedido, os parlamentares não garantem dignidade e direitos à comunidade trans e travestis.

“Ao negar meu direito de ser reconhecida enquanto cidadã do Recife, tais representações políticas torna público seu projeto de cidade e nele não há qualquer garantia de dignidade voltada a corpos trans e travestis”, enfatizou.
Ela acredita que o pedido de cassação contra a vereadora Michele Collins é uma posição de que a comunidade trans não aceitará a rejeição do título de cidadã para ela.

“Acredito que o pedido de cassação demarca uma posição de que não aceitaremos sermos desrespeitadas nos espaços públicos e isso inclui a casa legislativa que, a priori, representa a casa do povo. Especialmente nesse momento em que transfobia é considerada crime no Brasil”, acrescentou a professora.

Procurada pelo Diario, a assessoria da Câmara de vereadores do Recife afirmou que não vai se proniucniar sobre o caso.

A Câmara de Vereadores já concedeu título à mulher trans

Em 2022, a Câmara Municipal do Recife concedeu título de cidadã recifense à ativista Chopelly Santos, por proposição da então vereadora Cida Pedrosa (PCdoB).

Durante solenidade na Casa José Mariano, Chopelly fez referências de afeto e respeito para Cida Pedrosa e Hélio Guabiraba, mas também fez questão de citar nominalmente, um a um, todas as vereadoras e vereadores que votaram favoráveis à entrega do Título de Cidadã Recifense.

“Este titulo não é só meu. Espero que ele inspire muitas meninas a acreditar que é possível ser travesti, trans, e ocupar espaços na sociedade recifense. Recife é uma cidade que está pronta para acolher a população trans; o estado de Pernambuco é o que tem mais mecanismo de apoio ao público LGBT. E isso é resultado de uma luta de várias que vieram antes de mim. De várias que estão neste momento comigo. E quando eu não estiver mais aqui, outras seguirão esta luta”, destacou Chopelly.

Fonte: Diário de Pernambuco

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